segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

9º Episódio


Veja desde o primeiro episódio http://projetovermelhosangue.blogspot.com/2008/12/1-episdio.html

"cicatriz"

“Oi amor”. Respondi com cautela. Ela faz carinho na minha bochecha. O carinho é inconfundível. É ela. Luna pega na minha mão. Dança com meus olhos. Faz-me tocar a barriga que carrega o resultado de um amor que nunca acabaria, custassem quantas mortes fosse. Apesar de tudo, ela percebe receio na minha expressão. Mostra as cicatrizes pelas quais eu me apaixonei. É ela.

“O que aconteceu no dia que eu desmaiei?”. “Minha irmã viu você. Teve inveja, acreditava que eu era feliz demais pra irmã doente e moribunda da família”. “Quem é ela? Como ela entra em tudo isso?”. “Ela não mora comigo. Minhas doenças trouxeram melancolia à família. Ela morava num hospital psiquiátrico até o começo das aulas”.

Olho pro meu pai expressivamente. Ele entende. A sós de novo. A simplicidade do zíper se repete. O sentimento suave toma meu corpo novamente. Nada pode dar errado. Eu amo ela, isso que importa. Eu acaricio as marcas de uma doença, que se a levar, me leva junto. Nada pode dar errado.

Começamos a discutir as possibilidades. Poucas palavras. Muitos gestos. A tradição continua. “Luna, onde está sua irmã agora?”. “Não sei. Acho que ela enganou a mendiga. Talvez esteja lá.”

Meu celular vibra. MMS. Número desconhecido. Podia sentir o odor da foto. Irmã da Luna. Corpos do casal ogro. Mendiga morta. Esgoto. Deduzo rapidamente, Beco do Herói. “Amor, isso não pode passar de hoje à noite.”

21h. Já no apartamento. “Papai, vou dar um passeio com minha namorada”. Meu pai fica preocupado. Eu justifico que sinto saudades. Ele acaba cedendo. Chego à rua do Beco. Luna me espera na esquina. Nós avançamos juntos. Quanto mais me aproximo, mais libero adrenalina. Estou pronto pra revidar, me proteger e proteger a Luna. A cópia do meu amor não estava lá.

Abro a portinhola. Reconheço um choro baixinho. Inclino-me para ver. Um cachorro ensangüentado é a fonte do barulho. Ouço um baque atrás de mim. Meu corpo trava. Estremeço. A burrice de meus atos se destaca agora. Outro baque, agora na minha cabeça. A última coisa que vejo é a Luna. Qual Luna? Posso distinguir algumas palavras antes de desmaiar. “Eu te amo Jabba, as cicatrizes importam tanto assim?”.



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