domingo, 21 de dezembro de 2008

4º Episódio


Veja desde o 1º episódio :D http://projetovermelhosangue.blogspot.com/2008/12/1-episdio.html

"amour"

Terceiro dia de aula. Acordo subitamente. Sonhei com mamãe. Ela ficou feliz por causa de tudo. Minhas notas, minha recuperação do “trauma” e principalmente do meu heroísmo. Eu me lembro de como tudo aconteceu. Eu me lembro dos ladrões entrando na casa. Eu me lembro dos encapuzados atirarem no meu irmão. Eu me lembro do movimento de vai-e-vem do mais alto deles com minha empregada. Movimento que apenas recentemente entendi. Eu me lembro do meu irmão morrer nos braços da mamãe, do tiro que acertou a coluna dela e deixou-a paralítica.

Ritual matinal. Dentes. Cabelo. Roupa. Passando pela cozinha, vejo uns produtos de limpeza. Vem à mente uma cena inesquecível. “Filho, eu te amo, mas preciso salvar o Renato, por isso vou tomar isso daqui. NÃO me acompanhe, vá lá fora brincar”.

Passando pelo Beco do Herói, vejo uns policiais interrogando a mendiga. Coração acelera. Adrenalina percorre minhas veias. Aperto o passo.

Escola. Aulas incrivelmente interessantes. Meu ato de coragem fez com que eu tivesse mais gosto por tudo. Respondo tudo que os mestres da classe perguntavam. E os meus colegas, tomados por um luto pelo ogro, seja falso ou não, deixaram de me importunar. Pergunto-me quanto tempo de tranqüilidade uma morte pode resultar e se precisaria matar mais para prolongá-la.

Intervalo. A Luna continua sozinha. Mais uma vez sento com ela. “Tudo bem Luna? Quer uma mordida?”. Ela acena positivamente com a cabeça. Eu a encaro, indagando o porquê de seu silêncio. Ela puxa o decote da blusa para baixo. O suficiente para eu ver cicatrizes de operação. Depois puxa seu cabelo e me faz perceber que na verdade se trata de uma peruca. “Eu tenho alguns problemas de saúde Jabba, mas sou normal.”

Aquilo me fez tomar uma decisão. “Luna, o namorado da Lorena não está desaparecido, eu o matei num beco aqui perto”. Ela responde estranhamente com um sorriso sádico. Podia jurar que ela imitou o meu sorriso na hora do acontecimento. Ela, com um ar de seriedade, responde. “Sim, eu sei, eu vi tudo”. “A Roberta, moradora do beco, é minha amiga, nós limpamos a cena juntos”.

Insanamente sinto um prazer imenso. Faço meus lábios roçarem os dela. Meu primeiro beijo. Minha primeira morte. Amor um tanto quanto bizarro, sujo e puro ao mesmo tempo. Seria ela minha outra metade?



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